segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os Kobolds do Tucker



Tucker's kobolds 
(originalmente publicado na Dragon Magazine #127)

Original em http://dungeonsanddrawings.blogspot.com.br/2010/10/kobolds.html

O editorial deste mês é sobre os kobolds do Tucker. Recebemos algumas cartas pedindo conselhos sobre criar aventuras para níveis mais altos em AD&D, e os kobolds do Tucker parecem servir para isso.
Muitos personagens de alto nível têm pouco a fazer porque não são desafiados. Eles bocejam para tarrasques e devem se esforçar para ficarem acordados quando aparece um lich. O DM envolvido não sabe o que fazer, então para de lidar com este problema e os personagens vão para o Limbo dos Personagens.

Chegar nos níveis mais altos é difícil, mas fazer qualquer coisa depois que se chega lá é ainda pior.
Um dos problemas chave em desenvolver aventuras esta em criar oponentes que possam desafiar personagens poderosos. Monstros únicos como tarrasques e liches são fáceis de enfrentar em conjunto [N.T: ok, eu não acho que é bem assim, mas entendo o ponto de vista do autor]; o grupo concentra seu poder de fogo no alvo ate que ele caia morto e trema seus pezinhos no ar. Desenvolver monstros mais poderosos que um tarrasque é se auto derrotar; se o grupo derrotar seu super monstro, o que virá depois – mandar a mãe dele?
Não funcionou com Beowulf, e possivelmente não funcionará aqui.

Pior ainda, super monstros únicos raramente tem que pensar. Eles geralmente usam suas confiáveis e previsíveis garra/garra/mordida. Esta não deveria ser a medida da campanha. Estes jogos desmoronam porque não há desafio neles, nenhum estimulo mental – nenhum perigo.

Em todos os jogos que vi, os piores, mais horríveis, mais malvados além de comparações oponentes eram mais fracos que os personagens que enfrentavam eles. Eram simplesmente criaturas bem armadas e inteligentes que eram interpretadas pelo DM para serem espertas e sem piedade. Os kobolds do Tucker eram assim.

Tucker tinha uma dungeons incrivelmente perigosa nos dias que eu ficava na Ft. Bragg, N.C. A dungeon tinha corredores que transformavam seus burros em gigantescos demônios flamejantes ou largavam o grupo todo em banhos de ácido, mas os demônios eram fracotes se comparados com os kobolds do Primeiro Nível [N.T: mesma coisa que “primeiro andar”]. Estes kobolds eram kobolds comuns, com 1-4 pontos de vida e tudo mais, mas eram cruéis. Quando eu digo que eram cruéis, digo que eram malvados, Jim [N.T: não sei que Jim é esse. Será uma referência nerd a Star Trek?]. Eles se formaram magna cum laude [N.T: do latim ”com grande honra”] no Instituto Sauron para os Criminalmente Cruéis.

Quando me juntei ao grupo, alguns dos personagens já tinham encontrado com os kobolds do Tucker, e não estavam ansiosos para repetir a experiência. O líder do grupo marcou no mapa da dungeon maneiras de evitar as pequenas criaturas, mas não era possível. O grupo acabou aceitando adentrar o Primeiro Nível para chegar até os elevadores, onde poderíamos descer até o Décimo Nível e lutar contra monstros “ok”, como gigantescos demônios flamejantes.

 Não deu certo. Os kobolds nos pegaram uns 20 metros dentro da dungeon trancaram a porta atrás da gente e a bloquearam. Então, colocaram fogo no corredor, enquanto ainda estávamos lá.
“NÃÃÃOOO!!!” gritou o líder do grupo. “São ELES! Corram!!!”. Encorajado, nosso líder esbarrou em uma passagem lateral, somente para ser emboscado por mais kobolds atirando com bestas leves através de “murder holes” [N.T: buracos longos e estreitos, criados apenas para a passagem de flechas] nas paredes e teto.

Kobolds com armadura de metal e escudos arremessavam coquetéis Molotov em nós do outro lado de gigantescos entulhos flamejantes, que foram empurrados por outros kobolds usando longas varas de metal. Não havia erro quanto a isso. Esses kobolds eram maus.
 Viramos para nosso líder em busca de conselho.

"AAAAAAGH!!!" ele gritou, mãos unidas em frente ao seu rosto para gritar sobre a situação tática.
Abandonamos a maioria dos nossos itens carregados e os burros para acelerar nossa corrida em direção aos elevadores, mas fomos interrompidos por kobolds snipers que podiam se separar e atirar, abaixando-se atrás de pedras e esquinas após lançar flechas e quadrelos com ponta de ferro, javelins, machados de mão, e mais garrafas de óleo flamejante. Deparamos-nos com uma seção inexplorada do Primeiro Nível, levando dano toda hora. Foi ai que descobrimos que os kobolds tinham preparado o primeiro nível com uma série de pequenos túneis para acelerar sua movimentação. Kobolds “comandos” estavam em todo o lugar. Todos os nossos “hirelings” [N.T: aqueles pobres coitados que o grupo contrata como “escudos de carne” no modo old school de jogar]. A maioria dos nossos “henchmen” também [N.T: aliados. Aqueles caras que estão um “patamar” acima dos hirelings]. Nós seriamos os próximos.

Lembro-me de termos um mago de 12º nível conosco, e pedimos a ele para lançar uma magia ou algo do tipo. “Acabe com eles!” gritamos enquanto corríamos. “Bola de fogo neles! Pega esses pequenos @#+$%*&!!"

“O que, nesses corredores estreitos?” ele gritou de volta. “Vocês querem que eu queime a todos nós ao invés deles?”

 Nossa corrida desesperada de repente nos levou até um corredor sem saída, onde um duto de ar gigante levava para baixo até uma escuridão inominável, muito além do Décimo Nível [N.T: para quem não lembra, geralmente quanto mais descemos em uma dungeon, “maior o nível”]. Rapidamente prendemos espigões no chão e nas paredes, lançamos a cordas na beirada e descemos em direção a escuridão inominável, porque qualquer coisa que encontrássemos lá em baixo era certo que seria melhor que estes kobolds.  
 Nós escapamos, encontramos gigantescos demônios flamejantes no Décimo Nivel, e até mesmo conseguimos matar um depois de uma hora de combate e a vida de metade do grupo. Nos sentíamos muito bem – mas o líder do grupo não poderia ser alegrado.

“Ainda temos que voltar por onde viemos,” ele disse enquanto dividia melancolicamente o tesouro.
Os kobolds do Tucker eram a pior coisa que podíamos imaginar. Eles devoraram nossos burros e pegaram nosso tesouro e fizeram tudo que podiam para nos fazer miseráveis, mas eles tinham estilo e cérebro e tenacidade e coragem. Respeitávamos e amávamos eles, mais ou menos, porque eles nunca eram entediantes.

Se kobolds podiam fazer isso com nosso grupo de personagens de 6º ao 12º mível, imagine o que alguns orcs ou NPCs de baixo nível poderiam fazer para um grupo de 12-16º nível, ou uma gangue de NPCs de nível médio e monstros para grupos de 20º nível.
Tente. Às vezes, são as pequenas coisas –usadas corretamente- que contam.

Roger E. Moore

4 comentários:

  1. Pra mim esse é o espírito da coisa que o mestre deve ter quando usa kobolds. Sempre gostei e tenho certeza que vou continuar gostando dessas criaturas.

    Esses bichos dão medo não pela força, mas pela astúcia que os filhas da mãe tem pra ferrar com a vida dos aventureiros sem nem mesmo precisar confrontá-los diretamente a maior parte do tempo.

    Valeu pela tradução Beltrame! De outra forma eu nunca que ia ver esse texto \o/

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  2. Sensacional essa história dos kobolds, nunca pensando em algo assim antes.

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  3. Que show!
    Sensacional.
    Parabéns pela postagem...

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