terça-feira, 26 de setembro de 2017

Entrevista com Diana Paxson

Salve pessoal!
Outro dia eu estava procurando essa entrevista muito legal que fiz com uma grande autora, Diana Paxson. Percebi que ela havia se perdido nas confusões da internet, soterrada no Vorpal. Alias, graças ao grande Igor Sartorato, que tinha salvo o blog num doc, consegui reaver esse material.

Aqui está, então:

Entrevista com Diana Paxson

Pessoal, hoje trago para vocês uma entrevista muito legal que fiz com uma escrito muito importante na área da fantasia, Diana Paxson.
Diana nasceu em 1943 e é a atual responsável pela continuação da série de Avalon, contando o que se passa antes de “As Brumas de Avalon”, romance escrito por Marion Bradley.
Apesar de não ser a única série cooperativa de ambas, é a que mais me interessa, e aconselho a todos lerem o primeiro livro da série, “A Queda de Atlântida”. A série “Avalon” em si é muito interessante, e ao contrário do que pensava, não é uma série “girl power” / “man are scumbags”.
Estou revendo alguns conceitos que tinha sobre druidas, magias divinas e ordens clericais.
Vamos então às palavras de Diana Paxson.
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1-Poderia nos falar um pouco sobre você? Preferências, escolhas na carreira, etc?

Cresci no sul da Califórnia, e passei a maior parte do meu tempo livre lendo, desenhando, e fazendo caminhada nas colinas. Me formei em Inglês no Mills College no Norte da Califórnia, e meu Mestrado em “Literatura Comparativa” na University of Califórnia em Berkley. No mesmo ano (1966), fiz o primeiro torneio, reunindo as pessoas que criaram a “Society for Creative Anachronism” [N.T: ou ‘SCA’. Vejam mais a frente]. Em 1968 me casei com Jon DeCles, que já era um escritor de ficção científica, e era irmão adotivo da Marion Zimmer Bradley. Pelos próximos 10 anos, a maior parte da minha energia foi usada em desenvolver melhor a SCA. Eu também estava trabalhando escrevendo materiais educacionais e criando uma família.
Em 1971 comecei a escrever ficção, e em 1981, minha primeira novela “Lady of Light”, fora publicada. Fiz meu sustento com a escrita, com períodos ocasionais de ensino de Inglês, desde então. Meus maiores trabalhos incluem as “Chronicles of Westria”, situada num futuro alternativo da Califórnia, um certo número de novelas solo de fantasia sobre temas lendários, e a série de Avalon. Fiz por volta de 75 histórias curtas, a maioria antologias.
Escrevi também quatro livros fora da ficção sobre religião neo-pagã.
Vivo em Berkley, dividindo uma casa grande com meu filho, sua esposa, e seus três filhos, e sou ativa na comunidade pagã local, nacional e internacional.

2- Quais foram as maiores influências para suas histórias? Temas, autores, etc.

Meus autores favoritos incluem J.R.R. Tolkien, C.S Lewis, Marion Zimmer Bradley, Ursula LeGuin, Michael Scott Rohan e S.M. Stirling. Para relaxar, leio Lois Bujold e David Weber.

3- Na sua opinião, quais as maiores diferenças na Literatura de Fantasia, de quando você começou a escrever até os dias de hoje? Existe alguma?

Quando comecei, a única fantasia publicada era para crianças. Quando Tolkien se tornou popular, a fantasia adulta veio logo atrás, e agora vemos um retorno da fantasia para jovens adultos. Existiram muitas “modas” na Fantasia, incluindo épica, feminista, e vampiros.

4- Algumas pessoas dizem seus livros e os de Marion são apenas sobre “poder feminino”.  Puxa, eles estão errados ou o que? Quero dizer, as mulheres tem poder nos livros, mas elas sofrem o mesmo ou mais que os homens! Prefiro pensar não como “histórias femininas”, mas como “ponto de vista feminino”. Por favor, conte-nos um pouco sobre isso?

Marion trabalhou vários temas em seus livros de ficção científica, incluindo homossexualidade, habilidades psíquicas e feminismo. As Brumas de Avalon foi escrita no auge do movimento feminista, e cumpriu uma importante necessidade de olhar para as histórias tradicionais de um ponto de vista feminino e explorar o poder feminino. Os livros que seguiram continuam a ter protagonistas mulheres, mas dei aos personagens masculinos mais importância.

5- conte-nos sobre a Society for Creative Anachronism. Como você teve essa idéia? Alguma boa lembrança e histórias que queira dividir conosco?

Dois jovens do clube de ficção científica local estavam tentando imaginar como uma luta de espada medieval e escudo funcionariam, tentando reproduzi-la. Quando vi seus equipamentos, pedi a eles para treinarem em meu jardim para que eu pudesse fazer esboços precisos para uma revista amadora de ficção científica que eu costumava ilustrar. Observando, pensei em como muitas pessoas que eu conhecia, na faculdade e entre fãs do assunto, gostariam de ver como realmente era, e percebi que tinha bastante espaço no meu jardim para um pequeno torneio. Claramente essa era uma idéia boa, já que quando torneio a notícia do evento pública, todos os tipos de pessoas apareceram, e queriam continuar com o evento.
A hora era propícia para inventar um novo tipo de cultura, em que as pessoas poderiam se relacionar umas com as outras e com as coisas que estavam acostumadas numa maneira mais orgânica, pessoal.
Não sou mais um ativa na organização, mas estou presente em alguns eventos de vez em quando e mantenho velhas amizades, e tenho muito orgulho de ter feito parte da criação disto.
[N.T: a SCA foi criada em 1966, e hoje tem mais de 30 mil membros. O nome “Society for Creative Anachronism” foi criado por Marion Zimmer Bradley, uma das primeiras integrantes]



6- Ainda sobre a SCA, sei que David Sutherland, famoso ilustrador de RPG, fez parte da sociedade. Me parece que vários membros tinham diferentes talentos que poderiam ser utilizados em interesse mútuo, como arte fantástica, poesia, etc. Poderia falar mais sobre outros membros da SCA e suas atividades?

A SCA recria uma sociedade inteira, então precisa de pessoas para fazer tudo, de roupas básicas até poemas e músicas originais e pergaminhos com caligrafia. Pessoas fazem todos os tipos de trabalhos e arte, geralmente com uma habilidade artística muito elevada. O “Artes e Ciência” exibido em grandes eventos é impressionante.
É difícil, contudo, arranjar tempo para fazer seu trabalho como um artista e ainda participar em tempo integral da SCA, então a maioria dos artistas e escritores profissionais acabam tendo que interromper suas atividades na SCA.

7- Você já jogou RPG ou wargames? Se já, poderia nos contar suas experiências?

Não—Sempre pensei que se fosse colocar algum tempo nisso, esforço e imaginação em criar personagens e cenários, eu gostaria de ser paga para tal. Meu filho, contudo, conduz jogos em nossa casa mais ou menos duas vezes por semana, então ouço sobre isso constantemente.

8- Devo confessar que não li (ainda!) todos os livros da série de Avalon, mas dos três primeiros livros em português (Queda de Atlântida, Ancestrais de Avalon e Corvos de Avalon) o uso de “magia forte” é visto normalmente quando os sacerdotes trabalham juntos, e na maioria dos livros de fantasia que li, o mais comum é “um personagem forte” (Gandalf, Raistlin e até Rincewind de Discworld, de certa forma). Entendo que personagens como Domaris, Chedan e Micail tem um grande poder interno, mas você e Mario escolheram a “magia em grupo” por alguma razão em particular?

Existem duas razões para a forma que a magia ocorre nos livros. A primeira é que Marion começou com a tradição Atlante, que tem um sociedade hierárquica com um  estilo de magia sacerdotal e cerimonial. Seu próprio passado místico foi inspirado pela Order of the Golden Dawn, que também tem uma abordagem cerimonial e baseada em grupos. Ela e seu marido dirigiam um grupo cerimonial próprio nos anos 70. No começo dos anos 80, ela e eu fundamos o Darkmoon Circle, um “coven” Wicca feminista que foi o modelo para o “College of Priests” em Avalon. A maioria dos livros com “magos solo” são escritos por pessoas talentosas que tem um bom instinto para mitologia e teoria mágica, mas nunca trabalharam num grupo místico, portanto não sabem como descrever um.
(para mais informações sobre este background, veja WWW.avalonboks.net)

9- Quais os problemas que você enfrentou quando “tomou conta” da série de Avalon? Imagino que deva ter sido muito difícil “conectar todas as pontas”, lembrando todos os personagens, ações, problemas a vir, etc. Você tem algum tipo de “árvore genealógica” para os personagens ou algo do gênero?

Marion nunca teve a intenção de escrever uma série sobre Avalon. Ela teve um derrame enquanto escrevi “A Casa da Floresta”, e me pediu para tomar as rédeas.  Este livro foi baseado na ópera do séc. XIX “Norma”, com um típico final deprimido de ópera, então sugeri deixar Caillean sobreviver e ressuscitar a comunidade feminina de Avalon. Aquele livro funcionou bem, e os editores pediram por outro, e assim a série nasceu. Marion não gostava da consistência necessária para uma série, mas eu preferia escrever séries, e curtia trabalhar e pensar em todas as ligações.
Tenho várias notas de coisas como reencarnações dos personagens (uma das maneiras de manter a continuidade numa série que transcorre em 2500 anos).

10- Que conselho você poderia nos dar sobre criar e contar histórias?

Escrever o que você saber, mas continue aprendendo, assim você sempre saberá algo novo. Escreva sobre personagens que você se importa. Tenha certeza que algo realmente tenha acontecido ou mudado para eles quando o livro chegar no fim.

11- Algum último comentário que gostaria de fazer?

Estou encantada em saber que tenho leitores no Brasil, que é um dos países mais fascinantes do mundo atualmente. Adoraria visitar um dia.

2 comentários:

  1. Fantastic interview. I have enjoyed the Avalon books for years and enjoyed Diana Paxson's take on them and her own books as well.

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