sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Gandalf era um mago de 5º nível

Toda a conversa sobre magos no grupo Appendix N e OSR Brasil me fez lembrar de um texto que traduzi anos atrás. Procurei e procurei, mas nada de encontrar. Daí fui olhar no arquivo de resgate histórico que o Igor Sartorato fez do blog Vorpal, e lá estava!
Já faço um adendo, ok? Antes de dizer que em tal livro Gandalf fazia isso e aquilo, pesquisem bem as datas dos livros e do artigo!

Com vocês, na íntegra, resgato de 8 anos na escuridão da internet, "Gandalf era um mago de 5º nível"

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PARTE 1
Salve, pessoal!
Hoje vou trazer uma matéria muito interessante vinda da remota edição #5 da The Dragon (que depois passaria a ser conhecida como Dragon Magazine), chamada “Gandalf Was Only a Fifht Level Magic-User”, por Bill Seligman, em 1977.
Bom, quero antes de tudo deixar bem claro que meu intuito por trás disso não é desvalorizar a obra de Tolkien ou algo assim, mas mostrar que um mago pode ser impressionante no 5º nível, ao contrário do que muitos pensam. Claro, eu também acredito que não era essa a intenção do autor ao escrever, visto que a época era outra e o pensamento dos RPGístas também era outro. Não entrando no mérito de quem se inspirou em quem (Gygax, Tolkien, Fábulas, etc), vamos começar então:

Gandalf era apenas um mago de 5º nível, por Bill Seligman (Thr Dragon, março de 1977)

O que ?? Eu ouço seu grito. Impossível, você grita; Gandalf era pelo menos de nível 30, 40 até mesmo 50!! Afinal, ela era um Istari, e viveu pelo menos 2000 anos! Oh, verdade?, eu respondo. Vamos analisar toda a mágica que ele já fez, e ver o que tinha de tão alto nível nele.
Primeiro, vamos passar pelo Hobbit. EM ordem as magias de Gandalf foram:
1) Fazer anéis de fumaça coloridos e extravagantes e fazê-los voar pela sala. Isso não é mais que uma variação de Pyrotechnics [Pirotecnia], com talvez Phantasmal Force [Força Fantasmagórica] misturada.

2) Enganar os trolls com Ventriloquism [Ventriloquismo], uma magia de primeiro nível.

3) Lightning Bolt [Relâmpago] de seu cajado para matar os orcs que haviam capturado os Anões e Bilbo. Magia de 3º nível.

4)Pyrotechnics para confundir os orcs, para resgatar os Anões e Bilbo. Magia de 2º nível.

5) Lighting [Luz] o caminho para os Anões e Bilbo enquanto dentro das cavernas, com um brilho de seu cajado. Magia de 2º nível.


6) Fazer pinhas pegarem fogo e jogá-las nos Wargs de cima de uma árvore. Uma variação de Fireball [Bola de Fogo], Pyrotechnics e até mesmo a magia de Druida Produce Flame [Produzir Chama]. Não é uma magia mencionada especificamente na lista do D&D, mas mesmo assim não é tão poderosa.

7) Arremessar Sauron do Dol Gul-dur. Ele fez isso em conjunto com o White Council, então não conta como esforço de um indivíduo. (Além do mais, como mostrarei mais tarde, Sauron não era, ou não muito mais, do que nível 7 ou 8.)

8 ) Uma combinação de Lightning Bolt ou Light de seu cajado para chamar a atenção do lado “bom” da Battle of Five Armies para permanecerem unidos, como queira. Dependendo do sistema de magia que você estiver usando, você pode mudar esses números em um ou dois níveis, mas até agora Gandalf não mostrou habilidades acima do 5º nível.

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A matéria continua pessoal! Bill analisa os outros livros da série, comparando as magias de Gandalf com o sistema de D&D. Antes que me apedrejem ou algo assim, quero fazer algumas colocações:
1-É claro que LOTR não usaria o sistema de D&D, pois este foi criado para que a magia fosse algo de maior acesso.
2-Não quero desfazer de Gandalf, Tolkien, ou qualquer coisa semelhante : “estou traduzindo um artigo!
3-Gandalf não precisaria usar todo seu poder, a toda hora. Nada o impediria de usar apenas magias de baixo nível, e isso não eliminaria a possibilidade dele ter muitas “cartas nas mangas”
4-Enfim, como também já disse antes, acho legal a comparação não pelo certo nível de chacota, mas sim para que os jogadores e mestres vejam como um pouco de imaginação consegue transformar magias simples em algo muito mais espetacular!

PARTE 2


Cá estamos de volta, com a segunda parte dessa matéria originalmente publicada na revista The Dragon de 1977. Confesso, correndo o risco de perder pontos de afinidade nerd, que nunca li a trilogia do Senhor dos Anéis, então não tenho muito o que discutir. De maneira geral, concordo com a maioria dos argumentos apresentados aqui, apesar de alguns forçarem as regras ao máximo, para satisfazer o ponto de vista do autor. Vamos ao próximo livro, a Sociedade do Anel!

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Vamos para a Sociedade do Anel:

1) Seus fogos de artifícios na festa do Bilbo: mais uma vez, assumindo que eram magia, o que não precisa ser verdade, seria uma variação de Phantasmal Force, Pyrotechnics, etc. Nada além do segundo nível.

2) Lightning Bolt na batalha contra o Nazgul. Terceiro level. (tudo bem, se vocês desejam que o domar do Shadow-fax seja mágico, esta bem. Depois do episódio nos portões de Moria, não existe razão para que Gandalf não pudesse falar Eqüino, mas uma magia “Charm Animal” [Encantar Animais] seria mais fácil que um Charm Person [Encantar Pessoa] de qualquer maneira)

3) Adicionar guerreiros à espuma do rio que sobrepujou os Nazgul. Phantasmal Force, talvez uma variante de Monster Summoning I (já que não temos nenhuma dica quanto ao nível destes guerreiros).

4) Acender um fogo no meio de uma tempestade de neve. Um toque de Fireball [Bola de Fogo] ou até Produce Flame. (Notem aqui que Gandalf revela que até mesmo essa simples magia pode ser detectada de uma distância tão longa. Isso mostra a “fraqueza” mágica da Terra Média de Tolkien. “Ah há”, você diz, “já vi onde você está errado!”. Espere um pouco, voltarei a esse ponto mais tarde. Continuando:

5) As chamas quando lutando contra os Wargs. Uma variante de Fireball, 3º nível.

6) Lightning no caminho de Moria. 1º nível

7) Lutar contra o Balrog. Na sua descrição da batalha, me parece que ele usou somente, ou na maioria, Lightning Bolts, com talvez algumas Fireballs se você for generoso. Ainda assim, apenas terceiro nível. [N.T. bom, se ele lançou mais de uma magia de 3 nivel, ele já não é mais um mago de 5º nível, né? A menos que tenha algum Ring of Wizardry, ou algo do gênero]

8)      Ser ressuscitado. Mas isso não é feito por Gandalf, ele foi “mandado de volta”, e portanto não tem nada a ver com o fato em si.

Nas Duas Torres:
1)      A combustão em chamas da flecha de Legolas. Uma Fireball suave, talvez, até mesmo uma forma incomum de Protection from Normal Missiles [Proteção contra Projéteis].

2)      O despertar de Theoden. Uma combinação de Lightning, Light e Darkness. Nada além do 3º nível.

3)      A quebra do cajado de Saruman. Isso pode ter sido o resultado natural de um Istari dizendo aquilo para outro, um leve efeito de Charm Person, ou algo nessa natureza. Nada espetacular, de qualquer maneira, para ir além do terceirto nível de magia.
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Na terceira e última parte, Bill Seligman fala do Retorno do Rei e faz uma conclusão, ainda falando sobre a batalha contra o Balrog e lançando uma questão interessante.

Fiquem ligados!


PARTE 3

Bom, cá estou com a parte final da matéria. Aconselho aos interessados a lerem os comentários das partes anteriores, pois muitas coisa foi explicada lá. Para concluir, além de explicar novamente que minha intenção era mostrar não apenas este artigo de mais de 30 anos atrás, mas também para que percebamos o quanto a narração é importante. Vejam como algumas magias normalmente negligenciadas pelos jogadores e mestres podem mostrar-se de forma grandiosa e impressionante!
Outro detalhe, que apareceu muitas vezes nos comentários: por favor, prestem atenção na data do artigo! Se ele foi publicado em março, no MÍNIMO ele foi escrito em fevereiro de 1977. Os seguintes livros NÃO haviam sido publicados:
-Basic D&D (ou seja, 5º nível não era o máximo que se podia alcançar)
-AD&D 1st edition (muitas magias foram adicionadas nessa edição. O autor teria que rever muito do que foi escrito, caso o 1st edition já tivesse sido lançado na época)
-The Silmarillion e Contos Inacabados… (estes dois digo apenas por referencia, caso alguma informação sobre o Gandalf tenha surgido aqui, não haveria como o autor usá-las no artigo).
Sem mais delongas, vamos em frente!
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E agora, o Retorno do Rei:

1) Os raios de luz usados para resgatar Faramir. Não mais poderoso que um Lightning Bolt, por todo o efeito que teve . Eles [os raios] poderiam ter sido a magia magia Firebeam descrita, eu creio, no Alarums and Excursions #12.

2) Na Battle of Slag Hills, quando Gandalf poderia talvez ter usado seu poder ao máximo, ele não fez nada mencionado no livro. Talvez ele tenha usado Lightning Bolt ou Fireball/ beam, mas ainda assim isso não seria maior que 3º círculo.

3) Falar “mente-a-mente” com Elrond e Galadriel. Você não precisa de mais do que ESP para que isso aconteça.

E era isso. Se eu deixei algumas magias de fora, como Gandalf usando um Hold Portal ou Wizard Lock em Moria, não é intencional. Mas não creio que elas iriam além do 3º círculo. Se as palavras que usei como “variante” fazem você pensar que ele deve ter sido no mínimo de 11º nível para pesquisar esses feitiços, lembre-se que ele tinha seu Cajado, e o anel de Narya the Great, que estava associado com magias do tipo fogo, de qualquer maneira. Já que ele fora forçado a usá-los diversas vezes, quando, como eu mostrei, um mago de 5º nível não precisaria, talvez ele fosse até mesmo abaixo do 5º nível, mas não devo forçar meu ponto muito além.


Se você pergunta como ele durou tanto lutando contra o Balrog, eu respondo que isso é culpa do sistema de combate do D&D, então o ponto de que um mago de 5º nível não agüentaria os golpes de um Balrog de 10º nível não se mantém ao teste crítico (me refiro somente ao Balrog no D&D, não incluindo as características do Eldritch Wizardry, já que este tipo de Balrog geralmente é dito como muito fraco para ser um verdadeiro Balrog de Tolkien. Na verdade, quando posto em perspectiva ao Balrog que Gandalf enfrentou, o Balrog descrito por Gygax e Arneson originalmente era de força natural. Até onde sei, o demônio tipo VI é um demônio tipo VI, não um Balrog).

Quanto ao Sauron: sem entrar em maiores detalhes, Clairvoyance [Clarividência], ESP [Percepção Extra-Sensorial] e talvez um Wizard’s Eye [Olho Arcano] avançado, com um alcance muito maior do que descrito no D&D. Mas já que ele tinha o Palantir, talvez ele tenha deixado a coisa fazer a maior parte do trabalho por ele, e seu “Olho Vermelho”. Se você vai ser maldoso, deixe-o ter Control Weather [Controlar o Clima], que faz dele 12º nível. Ainda nada espetacular, já que existem aqueles que acreditam que Sauron era de 75º nível ou algo assim.

Então como conciliarmos a nossa intuição com fatos puros? Bom, para começar, como dei a dica acima, o universo de LOTR era fraco em magia. É fácil de presumir que tinha um “DM muito durão” que dava experiência tão devagar que levaria uns 2000 anos para um pseudo-anjo chegar ao 5º nível, e uns 6000 anos para EHP [?] alcançar o 12º. Mas ainda assim é inquietante. Eu preferiria culpar a escala que usamos: o sistema de magias do D&D.

Me parece mais plausível que Gygax e Arneson tenham se enganado em relação aos níveis das magias. Então o que fazer? Mudar o sistema de magias, o sistema de experiência ou o nível das magias, ou todas as opções acima? Qual é a sua resposta?

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E aí, o que acharam do artigo? No mínimo polêmico na minha opinião! Desde já, agardeço ao pessoal pelo apoio e participação aqui no Vorpal. Imagino que a revista tenha publicado algumas cartas em resposta ao artigo. Se tiver algo, posso trazer pra cá também.

Um comentário:

  1. penso que gandalf seria um tipo de clérigo variante, ele usa magias arcanas, sabe lutar inclusive com espadas, mas a a melhor classe seria o elfo que infelizmente ainda não estava disponível. não sei a opção de evoluir em duas classes estava disponível na época guerreiro/mago representara muito bem gandalf nas versões mais antigas do d&d.

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