sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Entrevista com Marcelo Paschoalin



Salve pessoal!

Hoje trago uma entrevista que tive o prazer de fazer com o grande Marcelo Paschoalin, prolífico escritor, mestre das artes místicas e gente boníssima!

Acompanhe o financiamento coletivo do seu novo livro, Aventuras, Foices & Feitiços aqui, e veja mais do seu trabalho na sua loja virtual.



1- O que é Aventuras, Foices & Feitiços?
Aventuras, Foices & Feitiços (ou AF&F) é uma versão ampliada e revisada do RPG Foices & Feitiços lançado em 2016. E quando falo ampliada, entenda que temos praticamente 3x mais páginas (são 304 páginas no total agora), que foram inspiradas tanto pelo clássico Chainmail como por algumas interessantes modificações implementadas pela 5ª Edição. Nele você vai encontrar, dentre outras coisas, Raças como Classes, magia não-Vanciana, toda a resolução de ações usando 2d6, cenário hexcrawl completo, criação compartilhada do vilarejo inicial, e gerador de aventuras.




2- Qual seria seu Appendix N para ele?
Uma vez Isaac Newton disse que "Se eu vi mais longe foi por estar sobre ombros  de gigantes." E isso se reflete na nossa caminhada de design. Lemos muito, de tudo, e isso nos faz olhar para além do horizonte. Sendo assim, tudo o que já li, por menos relação que tenha com fantasia medieval, contribuiu para isso. Contudo, para não fugir da questão, deixe-me listar 10 livros, sem ordem específica de importância, que podem servir como Appendix N para o AF&F:
-As crônicas de Dragonlance (Tracy Hickman e Margaret Weis)
-As crônicas de Shannara (Terry Brooks)
-O ciclo de Terramar (Ursula Le Guin)
-O Hobbit (J.R.R. Tolkien)
-Os livros de Conan (R.E. Howard)
-Stormbringer (M. Moorcock)
-The Axe and the Throne (M.D. Ireman)
-The Curse of Chalion (Lois McMaster Bujold)
-The Curse of the Mistwraith (Janny Wurts)
-The Dying Earth (Jack Vance)


3- Dá pra usar aventuras de outros sistemas?
Claro que sim, especialmente as aventuras de sistemas que usem níveis e classes. Não espere, evidente, uma correlação direta, mas um desafio que seja difícil para um grupo de 2º nível de Old Dragon (por exemplo), continuará sendo difícil para um grupo de 2º nível de AF&F.
Assim, você pode não encontrar a descrição de determinado monstro no bestiário, mas a criação de monstros é tão simples que poderá ser feita durante o jogo sem problemas.
De maneira semelhante, o cenário hexcrawl em AF&F pode ser adaptado sem problemas para outros sistemas, tornando-se um livro muito útil para quem quer explorar uma região única com outras regras e mecânicas.



4- Qual sua dificuldade em criá-lo?
São praticamente 2 anos de evolução desde o F&F original, ouvindo feedback dos jogadores, vendo o jogo se desenrolar na mesa, estudando outros jogos... Ideias são sempre abundantes, o que faz com que a maior dificuldade seja escolher o que deixar de lado para o futuro -- afinal, editar um livro é descartar ao menos 10% do material. -- A experiência de design em outros RPGs ao longo do período também me ajudou a dar um rumo ao AF&F que fosse bem o que eu gostaria de ver na mesa, sabendo que os jogadores iriam se divertir com isso.


5- O que você acha do mercado digital de RPGs?
Uma bênção e uma maldição.
É uma bênção porque podemos alcançar todo o tipo de público, permitindo que as obras cheguem sem demora e possam delas desfrutar. Assim, livros novos podem ser conhecidos a preços módicos (só para você ter uma ideia, as 304 páginas do AF&F estão, no financiamento coletivo, disponíveis num PDF que custa apenas R$ 10,00 por enquanto). Fora isso, há material de graça que os autores disponibilizam, ampliando o alcance do hobby até mesmo para quem não pode pagar por isso no momento (o F&F original é um exemplo disso, pois está como pague-o-quanto-quiser nas lojas online, e esse valor pode ser até mesmo zero).
É uma maldição porque alguns acreditam que, como bytes não possuem um "custo" inerente agregado, compartilhar os arquivos criados com muito esforço e dedicação deveria ser algo natural e gratuito, até mesmo usando como argumento que isso é uma forma de "divulgar" o autor. Essa "divulgação", porém, não paga contas, e sem as contas pagas, não há tempo para focar na criação de mais RPGs, o que afeta o mercado como um todo.


6- Como você vê a OSR no Brasil?
Vivemos um momento de crescimento novamente, não necessariamente em público, mas em material. Estamos, talvez, naquela fase da OSR lá de fora em que muitos materiais de qualidade estavam sendo produzidos simultaneamente, e isso é fantástico.
Contudo, em alguns círculos (e isso também é um reflexo do que acontece lá fora), a OSR brasileira também procura se fechar em seu nicho, ignorando o que até mesmo tangencialmente possa "não parecer" OSR segundo seus padrões próprios.
O espírito da OSR sempre foi o "faça você mesmo" e "divirta-se". Se as duas coisas estão acontecendo, não há como você estar "se divertindo errado".



7- Que conselho daria para quem quer criar seu RPG?
Conheça de tudo. Livros clássicos, livros atuais, outras mídias (como videogames). Estude o sistema a fundo. Entenda a razão de determinada mecânica. Nunca esqueça que a matemática e a estatística são suas maiores aliadas. Mas, acima de tudo, jogue muito. Sem você jogar, estará apenas trabalhando com teorias e números.
E um RPG é muito mais do que isso: é também um reflexo das relações humanas. O jogo, frente a frente ou pela internet, coloca o designer diante de outras pessoas que vão dar a verdadeira cor à obra criada. E, quando isso acontece, você passa a ter a consciência de que você não está escrevendo um RPG somente para se divertir, mas também para interagir com o outro, formando relações sociais importantes e, espera-se, através das metáforas e alegorias do jogo conseguir apresentar uma crítica à realidade.


8- Alguma última observação?
Jogar RPG é transgredir. É repensar a realidade.
É ser um herói, mas é também aprender a ser esse herói fora da mesa de jogo, trazendo para a realidade as experiências que RPG lhe trouxe para, enfim, tornar o mundo melhor.
Nessas horas, que os dados estejam sempre a seu favor.

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