segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Up On a Soapbox (Dragon Magazine #287)

A seção “Up On a Soapbox” teve sua estreia em 2001 na Dragon Magazine # 287, já na época da 3ed. Escrita por Gary Gygax, a seção apresenta curiosidades e histórias bacanas das experiências de Gygax, sempre com um “moral”. Esta que estou trago hoje, em livre tradução e adaptação, foi publicada originalmente na edição 302 (dez/2002) da Dragon Magazine.

Tudo que eu precisava saber eu aprendi com o D&D: Uma moeda por seus pensamentos

Diga isso para o Tio Patinhas (um dos meus heróis, é claro), e ele aceitaria prontamente. Isso nos leva a questão: é possível dar tesouro demais? É claro, mas não se feito da maneira correta. Apenas o avarento mais respeitável com sua gigantesca caixa forte de moedas poderia dar conta de tantos tesouros. Descobri isso por acidente quando detalhando as áreas de encontro da dungeon do primeiro nível do Castelo Greyhawk original.

O que parece muito nem sempre é muito. Quando os intrépidos personagens dos meus filhos Ernie e Elisa descobriram e derrotaram o covil dos kobolds, sua subsequente busca  revelou um grande baú de ferro. Este recipiente continha centenas de moedas de cobre!
“Ah-há”, eles pensaram, “mesmo com a taxa de câmbio por ouro nós encontramos uma soma valiosa”. Certo...e errado!


É claro que a pesada caixa cheia de moedas de cobre era mais do que dois personagens poderiam lidar. Depois de muito debate, pegaram o máximo que conseguiriam, saíram da dungeon e foram até a cidade para trocar o dinheiro por moedas de valor maior, e depois retornaram ao primeiro nível da dungeon para mais tesouros. Imagine a indignação várias horas de jogo depois quando os aventureiros descobriram que em sua ausência outros se aproximaram e levaram o resto do tesouro.

Não me diverti apenas com a ideia de uma “arca do tesouro flutuante”, com várias criaturas da dungeon levando a arca para seus covis apenas para que encontrassem a arca novamente, mas a ideia de um vasto tesouro, impossível de ser plenamente conquistado se solidificou em minha mente e se tornou uma importante ferramenta em criar possiblidades interessantes de aventura. Em níveis mais profundos da dungeon, as moedas se tornaram prata, electrum e eventualmente ouro. Mesma naquela época onde a quantidade de tesouro carregado significaria mais xp ganho, estes valores absurdos seriam praticamente inúteis.

Sacolas encantadas com espaço extraordinário eventualmente se tornaram disponíveis, mas até chegar lá o xp necessário para passar de nível fazia com que mesmo 20 mil xps extras [N.T: no caso, ele se refere ao fato de levar 20 mil moedas] fossem pouca coisa quando divididos entre os jogadores.

A reação inicial dos jogadores ao encontrarem grandes somas de moedas de baixo valor era de contratar mercenários. Eles recrutaram orcs como mercenários, pagando-os com parte do que estes serviçais conseguissem levar para fora da dungeon. É claro, isso mudava a maneira de jogar, incentivava a cobiça e o desejo de posse, e geralmente fazia da minha vida como DM algo mais interessante. Quando pilhas de moedas de ouro eram o alvo, os personagens faziam o possível para pegar a quantia. O tesouro de um dragão era o mais cobiçado. Claro que as montanhas de moedas eram um misto de prata, ouro e todas as outras moedas. Depois de terminar o temível combate, o tempo gasto verificando o que foi ganho, procurando moedas valiosas e tentando descobrir como levar a maior quantidade de tesouro possível oferecia muitas oportunidades para novos oponentes surgirem na cena.

Isso duro algum tempo, mas eventualmente os jogadores descobriram os truques, davam apenas uma “varrida” no que fosse mais valioso e deixavam o resto para quem ou o que se importasse. Isso acabou, então, com o que parecia com a possibilidade de encontrar tesouro demais. Os jogadores descobriram que “sim”, era demais.

Existe também uma lição de moral neste pequeno conto. Diferente de macacos, os jogadores eventualmente aprenderão a deixar passar prêmios aparentemente valiosos, pois continuar a segurá-los pode significar que eles serão o prêmio de algum captor.

3 comentários:

  1. Um ótimo texto, sem dúvidas. Moderar tesouros foi sempre um problema pra mim, meus jogadores passam muito tempo com moedas de cobre e prata (que normalmente uso até como a principal), muitas vezes até me chamam de injusto pelos combates difíceis e com pouca recompensa financeira (gosto de monstros errantes que não costumam carregar tesouros).

    Em minhas masmorras tanto os tesouros mais valiosos quanto os (extremamente raros) itens mágicos ficam muito bem escondidos!

    Abraços!

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  2. Como Gygax era criativo!!! Toda vez que leio algo sobre ele e suas histórias como DM fico surpreso! Obrigado por nos trazer este tesouro, Rafael!

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  3. Conceito interessante. Gygax era um gênio. :)

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